Olhares tristes e perdidos.
Esperança quase nula.
Desespero.
Medo.
Sensação de ser invisível em relação ao resto do mundo.
Constatação de que são poucos os que ainda se importam.
.
Não há nada que me adoeça e choque mais do que andar pelas ruas e ver a quantidade de pessoas que vivem em situações insalubres e sem uma moradia digna. Não a nada que me me amargure mais.
Por muito tempo eu coloquei a culpa nos políticos brasileiros, afinal, são eles que administram o nosso dinheiro... Mas conforme eu fui amadurecendo, vi que a sociedade também tem a sua parcela de culpa. Então ficaria mais ou menos dessa forma: Os políticos por roubarem o dinheiro público, que ao invés de ser investido em benefício da população, migra para paraísos fiscais e da sociedade por fechar os olhos para uma situação tão deplorável.
Já debati muitas vezes esse assunto com amigos e desconhecidos, que me ouviram e quiseram meter o bedelho onde não foram chamados e realmente me surpreende a capacidade que o ser humano tem de ser tão individualista. Geralmente o comentário mais comum é:
- "Ah, mas olha lá... O cara tem os dois braços, as duas pernas, está saudável... Não trabalha por que não quer!"
Já respondi a uma dessas, com a seguinte resposta: "Não sabia que você e ele se conheciam. Você para sempre aqui para conversar com ele? Nossa, bacana."
É tão fácil falar quando não é com a gente, né? Já perceberam? É fácil apontar o dedo e dizer: SEU BÊBADO, SEU NOIA, SEU VAGABUNDO, quando não se sabe a real situação daquela pessoa. É assim que a maioria das pessoas vêem os moradores de rua. Tem exceções? Obvio. Mas a maioria só precisa ser vista e ouvida... Uma oportunidade pode mudar a vida de uma família inteira.
Foto: Guilherme Lázaro (Entre as Ruas Oscar Freire e Hadock Lobo)